Vidas que começam e já são marcadas pela persistência.

Por trás de cada bebê prematuro, que chega em casa após dias ou até mesmo meses de internação em um hospital, há uma história de solidariedade, emoção e perseverança.

A primeira foto desses pequenos que vieram antes da hora mostra a fragilidade com que nasceram. As imagens revelam os tubos, a incubadora e a dura rotina hospitalar enfrentada por cada família.

Neste 17 de novembro, Dia Internacional de Sensibilização para a Prematuridade, ZH conta a história de sete pessoas que nasceram antes da 37ª semana de gestação. Com idades entre dois e 25 anos, todos passaram pela UTI Neonatal do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

A partir de uma inspiração no ensaio original do canadense Red Méthot, que emocionou o mundo, essas crianças, adolescentes e adulto posaram para os fotógrafos Mateus Bruxel e Bruno Alencastro para mostrar os rostos já crescidos de bebês que nasceram prematuramente.

— Ter um bebê prematuro é viver um dia após o outro — define Crismeri, mãe da Eduarda e da Daniela, que participaram do ensaio de ZH.


Ele nasceu de 28 semanas; ela, de 24.

— Eles me diziam que tinha pouca chance, mas nunca tiravam minha esperança — conta a mãe de Frederico e Beatriz sobre a equipe médica durante as gestações.

Analice Paganin Gonçalves, 51 anos, deu à luz dois bebês prematuros extremos com dois anos e oito meses de diferença. Um quadro de pré-eclampsia, condição gestacional associada à hipertensão arterial, tornou impossível segurar a gravidez nos dois casos. Frederico permaneceu internado por mais de dois meses, mas sem complicações. A rotina dentro do hospital se tornou angustiante para a médica obstetra, acostumada com a tensão do ambiente por causa da profissão.

Mas situação dramática se repetiria pela segunda vez no nascimento das gêmeas Beatriz e Elisa, com 24 semanas. Elisa lutou por dois meses e meio, mas apenas Beatriz sobreviveu. A pequena permaneceu no hospital sob cuidados intensivos por quatro meses.

Analice pôde segurar a filha no colo somente dois meses após o nascimento, a fragilidade da pele da prematura separava mãe e filha de um abraço. Nascida em janeiro, Beatriz foi definitivamente para casa a tempo de comemorar o aniversário de três anos do irmão mais velho, que viveu a rotina intensa junto a mãe que, desde então, não precisou mais se dividir entre a casa e o hospital.

Beatriz desde pequena gostava de olhar os álbuns com as suas primeiras fotografias e fazer perguntas sobre a irmã. Já Frederico nunca foi de fazer muitas perguntas sobre o início da sua precoce vida.

Nasceu em 9 de janeiro de 2013, na 27ª semana.

O limite mínimo de peso que os médicos indicaram para os pais Juliana e Daniel para que eles não perdessem as esperanças de que o bebê que esperavam sobreviveria era de 400 gramas. Valentim nasceu com 410.

— Os médicos não nos deram muita esperança — relembra a mãe Juliana Zignani, 39 anos.

Juliana e o marido, Daniel Krost, 39 anos, resolveram mudar de obstetra, mas não desistiram de levar a gravidez até o momento que fosse possível.

A internação na UTI do hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre durou sete meses após o nascimento de Valentim. O nome, previamente escolhido, já dava pistas da bravura com que o pequeno iria encarar os primeiros meses de vida. O tempo no hospital foi uma “montanha russa”, como descreve a mãe.

Valentim passou por cirurgias delicadas devido a uma condição chamada persistência do canal arterial, quando não ocorre o fechamento do vaso do coração que conecta a aorta à artéria pulmonar.

Em agosto de de 2013, ele pôde, finalmente, ir para a casa com a família, mas ainda precisou da ajuda de um cateter de oxigênio para respirar por mais sete meses.

Durante o ensaio, sentiu-se mais confortável no colo da mãe. Nas fotos, um pequeno hematoma na testa que ganhou depois de correr e cair já mostra que Valentim está pronto para enfrentar novos desafios — sem precisar do auxílio de aparelho algum.

Nasceu em 25 de novembro de 2001, com 23 semanas.

Oito anos após a chegada do primeiro filho, Aicha Reis, 50 anos, recuperou a esperança de ter o tão desejado segundo bebê quando descobriu que estava grávida de Gabriela. O nome da menina, que, em grego, significa “valente de Deus”, foi escolhido ainda no hospital, onde Aicha ficou internada por 15 dias antes do parto antecipado.

Os problemas de coagulação sanguínea, motivo dos quatro abortos espontâneos que antecederam aquela gestação, persistiam. No dia 25 de novembro de 2001, Gabriela nasceu às pressas com 540 gramas e permaneceu no hospital por 130 dias. Ela teve de ser submetida à uma cirurgia nos olhos e a um tratamento com medicamentos que afetaram sua habilidade de audição para a vida inteira.

Aos 13 anos, Gabriela perguntou por que a família não guardava a filmagem do seu nascimento, assim como dos irmãos. “Não teve como”, explicou o pai lembrando da situação emergencial e delicada do nascimento da filha. Há dois meses, a adolescente conheceu melhor a própria história, quando viu, pela primeira vez, as fotos de quando era bebê.

Gabi está prestes a entrar no 9º ano do colégio, ama literatura, sonha em cursar Direito e não deixa que a fragilidade respiratória, sequela da prematuridade, a impeça de jogar seu esporte favorito, o futebol. Foi ela que escolheu a foto que mostra neste ensaio.

— Fiquei orgulhosa de mim mesma quando soube da minha história — diz.

Nasceu no dia 17 de abril de 1990, com 35 semanas.

Formada em Arquitetura pela UFRGS, Priscila mora sozinha em Porto Alegre, onde trabalha em um escritório. Durante as fotos, mostrou as pequenas marcas que ainda permanecem na pele devido aos cateteres que foram implantados quando era recém-nascida.

De todos que participaram do ensaio, ela é mais velha. Nasceu nos anos 1990, quando apenas 60% dos bebês que vinham ao mundo antes das 38 semanas de gestação conseguiam viver, segundo a pesquisa Born Too Soon, realizada em 2012 pela Organização Mundial da Saúde.

Os pais de Priscila vieram de Rio Pardo, onde moram até hoje, depois do diagnóstico urgente que receberam. Elaine, mãe da jovem, teve um quadro acentuado de pré-eclampsia e decidiu vir às pressas para a Capital antes que situação se agravasse. Não havia escolha.

A permanência na cidade e dentro do hospital se estendeu por um mês, já que Priscila foi diagnosticada com síndrome da membrana hialina, um quadro de insuficiência respiratória. Depois de recuperadas, mãe e bebê voltaram para o Interior, onde Priscila viveu com a família durante a adolescência.

Nasceram no dia 27 de janeiro de 2005, com 26 semanas

Tímidas, as gêmeas chegaram ao estúdio de ZH com a mãe e uma amiga. Ao saber que era o fotógrafo Mateus Bruxel que faria ensaio, Crismeri, a mãe das meninas, não conteve a emoção.

Mateus era o nome do irmão de Daniela e de Eduarda que morreu 10 dias depois do nascimento dos três. A psicóloga, hoje com 48 anos, soube que esperava trigêmeos no início da gravidez, depois de realizar o segundo procedimento de fertilização artificial.

Em 27 de janeiro de 2005, Crismeri saiu de uma consulta médica de rotina e foi encaminhada para o hospital. A cesárea seria no mesmo dia, não poderia esperar, diziam os médicos.

Daniela e Eduarda nasceram com 1,1 quilo e 1,2 quilo. Depois de 66 dias no hospital, as meninas ganharam peso e foram para casa. Hoje, elas têm a qualidade de vida que a mãe pedia em orações, ainda no hospital, para que elas tivessem.

Hoje, não restam sequelas, apenas a emoção de ter resistido àqueles momentos com as duas filhas.

  1. Section 6
  2. Frederico e Beatriz Paganin Gonçalves, 15 e 12 anos
  3. Valentim Zignani Krost, 2 anos e 10 meses
  4. Gabriela Reis, 13 anos
  5. Priscila Schwengber, 25 anos
  6. Eduarda e Daniela Delfino Corrêa da Silva, 10 anos