Reportagem: Amanda Munhoz e Marco Souza | Edição digital: Amanda Munhoz e Vanessa Girardi | Edição de vídeo: Marcelo Carollo
Quando se é criança, jogador de futebol tende a ser a profissão escolhida. O jogo de domingo, na tevê, incentiva que os dribles no campinho sejam levados a sério. Mas são poucos os que conseguem de fato vencer a realidade de uma categoria de base em busca da fama, estabilidade financeira e realização pessoal. Menos ainda os que passam em peneiras e chegam a grandes times como Inter e Grêmio, casos do zagueiro colorado Eriks e do volante tricolor Arthur, ambos de 19 anos.
Se chegar é difícil, manter-se entre o seleto grupo de jogadores que renovam contratos a cada temporada é pior ainda. E este é só o começo da vida de um atleta da base. Por um ano, Zero Hora entrou e acompanhou a vida de Eriks e Arthur dentro e fora dos gramados. Desde as expectativas de como seria 2015 até as frustrações e alegrias que apareceram ao longo do ano.
Foram dias de treinos no CTs, o início com a Copa São Paulo, em janeiro, até a busca por um espaço entre os times profissionais da Dupla. O que parecia estar encaminhado com as equipes principal precisou ser readequado com a volta para a base. E um novo recomeço. Lesões foram superadas e, com elas, a necessidade de um retorno, uma volta.
Das mudanças de endereços à realização do sonho do primeiro carro. Momentos que precisaram ser divididos com a família via celular, por meio de ligações e mensagens. Eriks deixou os pais, Raimundo e Maria, e a irmã Érika no Rio de Janeiro em busca de um sonho em Porto Alegre. Artur saiu de Goiânia e também encara sozinho as agruras e felicidades daqueles que optam pelas chuteiras como profissão.
Para quem pensa que a vida de jogador de futebol é só glamour, bem-vindo ao início da carreira deles, o momento em que os baixos, muitas vezes, são muito maiores dos que os altos.
Nome: Arthur Henrique Ramos de Oliveira Melo
Posição: volante
Idade: 19 anos
Começou com quatro anos, na escolinha do ex-jogador Miltinho, em Goiânia. Chamou a atenção do Goiás em um campeonato municipal. Virou volante aos 13 anos. Em um torneio sub-15 disputado em Londrina, despertou o interesse do Grêmio. No começo, a mãe, Maria Luísa, não queria o filho longe de casa, mas depois permitiu que o caçula embarcasse para Porto Alegre.
Nome: Eriks de Souza Santos Pereira
Posição: zagueiro
Idade: 19 anos
Eriks herdou os passes curtos e precisos do futsal, onde começou a sua carreira. Chegou ao Atlético-MG após se destacar em competições entre bairros na cidade de Mangaratiba, no Rio, onde morava com a família. Desembarcou em Belo Horizonte como meia e, pela altura acima da média para a idade, virou zagueiro. A vinda a Porto Alegre tinha como objetivo fazer um teste no Grêmio. Um convite e a estada em uma pousada em frente do Beira-Rio o fizeram mudar de rota em 2009.
Madrugada de 1º de janeiro de 2015. Enquanto muitos jovens ainda se divertiam com as festas de Ano-Novo, Arthur deixava Capão da Canoa e rumava para Porto Alegre. No mesmo dia, o jogador embarcaria com a delegação gremista para a disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Assim, intenso, começava o ano do volante tricolor.
Com passe certeiro e movimentação constante, Arthur foi um dos pilares da boa campanha do Grêmio na competição. Na segunda partida, cobrou um pênalti que o goleiro pegou.
— Eu fiquei tranquilo, não me abalei muito. Depois que eu fui pensar que poderia ter nos classificado — comentou.
O problema é que no caminho pela busca do título inédito da Copa São Paulo apareceu o Botafogo-SP, umas das sensações da competição, que acabou eliminando o Tricolor. Arthur voltou a Porto Alegre com moral. Em entrevista a ZH, expôs suas metas para a temporada que estava começando:
— Em 2015, quero subir ao profissional, jogar na Arena e voltar à seleção brasileira (jogou o Mundial Sub-17 de 2013) — projetou Arthur.
O 2015 nem havia começado e dava ares de que seria digno de comemorações. Isso porque a base colorada virou o ano como campeã da Copa do Brasil Sub-20, um dos principais títulos da categoria. Os que vinham buscando titularidade, enfim, firmaram-se e garantiram lugar entre os titulares na tradicional Copa São Paulo, em janeiro, uma das vitrinas mais esperadas por clubes e jogadores. Era o momento de Eriks esperar pela oportunidade de transitar entre Alex, Juan, D’Alessandro durante a temporada.
— Eu sei que um bom desempenho meu pode fazer com que eu vire opção se o Aguirre (treinador na época) precisar — disse Eriks, ainda em janeiro, antes da estreia.
Com um certo receio para apostar em grandes projeções, o zagueiro definiu que 2015 era o ano da experiência. O que ele tinha trazido da conquista no fim da temporada anterior deveria servir de estímulo para alçar voos maiores. Desta vez, entre os profissionais. E com maturidade.
A chegada à equipe principal precisava coincidir com o bom momento do jogador. Na bola e no psicológico. A etapa do sobe e desce da base para o profissional é tida como a “mais complicada” pelos clubes, já que os jogadores precisam tirar do vocabulário a palavra expectativa. Ou simplesmente saber usá-la a seu favor.
A primeira vez nos profissionais
Após a eliminação na Copa São Paulo, Arthur voltou a Porto Alegre, fez a prova prática para tirar sua carteira de motorista e rumou a Goiânia para gozar as férias com a família. Só que o descanso foi de apenas quatro dias.
— O Paulo Araújo (supervisor da base) me mandou uma mensagem para voltar na primeira hora do dia seguinte, pois tinha de me apresentar ao Felipão.
Arthur chegou ao meio-dia em Porto Alegre do dia 27 de janeiro e foi para o CT Luiz Carvalho. Encontrou Raul e Júnior entre os jogadores do profissional. Fellipe Bastos, Rhodolfo e Douglas fizeram as honras da casa. Apresentaram os novatos aos cascudos.
Nos primeiros dias, Felipão e o auxiliar Ivo Wortmann o chamaram para conversas ao pé do ouvido. Mandaram cuidar as atitudes, que agora estava entre os profissionais do Grêmio. Alertaram que cobrança seria maior e que estavam à disposição para conversar quando necessário.
— No primeiro treino na Arena, já cheguei e conversei com todos. Me apresentei no vestiário. Foi um dos melhores treinos que eu fiz, foi um coletivo. Me elogiaram. Fellipe Bastos (ex-volante do clube) e o Matias (Rodríguez, ex-lateral) falaram muito comigo, foram os caras que me deram mais tranquilidade.
Sem Walace, na seleção sub-20, Marcelo Oliveira e Araújo, Felipão chamou Arthur para uma conversa na segunda-feira, 2 de fevereiro, véspera da partida contra o Aimoré, em São Leopoldo. Após rápidas orientações e pedidos de atenção, veio a novidade:
— Não tem segredo. É futebol. Vou te escalar ao lado do Fellipe. Joga tranquilo.
Faltava só passar pelo batismo junto aos colegas. Na janta após a conversa com o técnico, chegou a hora de discursar para os companheiros. Com guardanapos nos braços como um garçom e com um microfone formado por uma junção de garfos, Arthur subiu na cadeira para falar:
— É uma honra jogar ao lado de vocês. Isso aqui é um sonho, via vocês na TV e e agora estou aqui. Obrigado, Felipão. Não vou te decepcionar.
O pai foi o primeiro a saber. Do ônibus em deslocamento para São Leopoldo, partiu a ligação para a Goiânia.
— Pai, vou jogar. Peguei de titular.
A mãe estava nas arquibancadas do Cristo Rei. Pôde ver a estreia do filho, que ela não queria deixar vir para Porto Alegre. No acanhado vestiário do estádio do Aimoré, Arthur e Júnior receberam toda a atenção dos colegas. Ouviram frases de estímulo e confiança. O capitão Rhodolfo tomou a palavra:
— Estamos aqui para ajudar vocês.
Era 17 de maio, pouco antes das 16h. O Inter fazia sua estreia no Brasileirão no Beira-Rio diante do Avaí. Havia iniciado a competição com uma derrota por 3 a 0 para o Atlético-PR e estava encaminhado para encarar o Santa Fe nas quartas de final da Libertadores. Eriks foi um dos que aproveitaram o rodízio feito por Diego Aguirre (técnico da época) e entrou em campo ao lado de Anderson, Alex, Réver e Rafael Moura. Chegava, enfim, a sua primeira vez no profissional.
Ao lado do amigo Eduardo, ficou no banco. Vitinho, recém-chegado ao clube, também era opção para o segundo tempo. Ele acabou entrando no lugar de Rafael Moura e fazendo o gol da vitória daquela tarde.
No túnel, a caminho do gramado do Beira-Rio, o zagueiro sentiu o coração bater mais forte:
— Estou no Inter desde os 12 anos. Ter passado por todas as categorias e ir para um jogo no profissional... Em 2009, era eu quem estava ali, na arquibancada, torcendo. Vi o Beira-Rio diferente, lembrei do antigo que, inclusive, foi minha casa. Aprendi muito naquele momento — lembra Eriks.
No hotel da concentração, antes da ida ao estádio, outra experiência: o carinho da torcida no saguão, ainda novidade para o jogador que, às vezes, é confundindo com o companheiro Eduardo.
— O torcedor ficou olhando, procurando saber quem é. Alguns tiraram fotos — conta Eriks, que ainda aproveitou conversas com o veterano zagueiro Juan para descobrir o segredo do “desarme com carrinho sem falta”.
O tratamento de toda comissão técnica também surpreendeu. Eriks viu pouca brincadeira e reparou que todos os jogadores descem juntos para fazer as refeições. Saem da mesa só quando o último terminar de comer.
— Isso, na base, depende muito do treinador. O cuidado é o mesmo para todo mundo. O jeito que trataram ao Alex, trataram a mim também — finalizou.
Há cinco anos em Porto Alegre, Arthur tem como um dos inimigos o inverno gaúcho.
— No começo, foi bem difícil. Faz muito calor em Goiânia. Lembro bem que nos dois primeiros anos teve muito frio, ele reclamava bastante — relembra Ailton, pai do volante.
Para minimizar a saudade do caçula, os pais Maria Lúcia e Aílton implementaram um rodízio. Volta e meia um deles vem a Porto Alegre ficar com o filho. Até o irmão mais velho, Paulo Henrique, entrou na escala de vindas à Capital.
Na base, a rotina de treinos é diferente dos profissionais. Os trabalhos costumam ocorrer pela manhã. Assim, o clube providencia o café da manhã para os jogadores. Depois da promoção ao grupo principal, Arthur precisou mudar a rotina e ter em casa os itens para fazer a alimentação adequada a um jogador.
Durante as noites, o videogame vira o parceiro. A diversão começa pelo futebol do Fifa, passa pelos tiros do Call of Duty e pela velocidade de The Need for Speed. Normalmente, o jantar é no Outback do Shopping Iguatemi. Como cliente regular do restaurante de comida australiana, tornou-se amigo do dono. Quando quer variar, o roteiro é a praça de alimentação do Bourbon Wallig, que fica a menos de 1km do apartamento onde mora.
A saudade dos pais e da namorada é amenizada com chamadas em vídeo pelo smartphone.
Na infância em Mangaratiba, no Rio de Janeiro, Eriks aprendeu cedo que precisava ser independente. Via a mãe, Maria das Graças, hoje com 35 anos, acordar às 4h para deixar o almoço da família pronto antes de sair para o trabalho de revendedora de cosméticos. Mais velho do que a irmã Érika, era ele quem organizava seus próprios horários . Nunca precisou ser cobrado para ir a escola ou frequentar aos treinos. Se o sonho era seu, a obrigação também deveria ser. A mãe garantia o dinheiro do transporte, e ele precisava valorizar.
— Não considerava que fosse acontecer. Via o futebol como coisa de criança. Tudo foi decisão dele. Aos 10 anos, o Eriks já sabia o que queria — lembra Maria das Graças, por telefone, desde Mangaratiba, onde a família mora.
O futebol, de fato, aconteceu para Eriks, e hoje o zagueiro ajuda a sustentar a família. Envia uma quantia mensal aos pais e à irmã. As mensagens e as ligações que costumam encurtar distâncias, aos domingos, não funcionam como deveriam.
— É o pior dia. Domingo, se não tenho jogo, é quando eu sinto mais falta deles — conta Eriks, que namora Giovanna Chiot, 18 anos, e encontrou nos companheiros do Inter uma nova família.
Eduardo não é só um parceiro da zaga, nem Ferrareis foi só o capitão do time que disputou a Copa Ipiranga Sub-20. Os três são parceiros fora de campo, saem para jantar com suas respectivas namoradas e, recentemente, trocaram presentes em um amigo-secreto com mais um outro casal fora do futebol.
Por três anos, Arthur alugou um apartamento em frente ao Olímpico, de onde saía o ônibus que levava e trazia os meninos da base que treinam no CT Hélio Dourado, em Eldorado do Sul.
— No primeiro ano em Porto Alegre, ele ficou no alojamento, depois não quis mais. Aluguei um apartamento para ele. O Venâncio (colega da base), que ficou muito amigo dele, morava junto. Depois, foi Igor Mutante (outro jogador da base) que ficou um tempo ali.
Em 2015, quando recebeu sua chance entre os profissionais, a vida mudou. Maior de idade, tirou a carteira de motorista e comprou o primeiro carro. Com auxílio do pai, o Cruze branco foi adquirido logo depois da participação do Grêmio na Copa São Paulo. E assim, os deslocamentos entre o apartamento na Azenha e os treinos no Humaitá ficaram mais fáceis.
— Cheguei em casa, e o carro estava na garagem. Minha mãe estava me esperando com a chave na porta, dei uma volta pelo condomínio — recorda o volante.
Com a perspectiva de ficar definitivamente no time de cima, procurou uma moradia maior para receber a família e os amigos, além de ter um pouco mais de conforto nos momentos de folga. A mudança para o novo apartamento, agora no Bairro Passo D’Areia, também diminuiu o tempo de deslocamento entre a casa e o CT Luiz Carvalho.
Das experiências que 2015 deixou, uma delas foi especial para Eriks: a compra do primeiro carro. Até este ano, as idas para os treinos eram de ônibus. Ele saía de casa às 6h30min para pegar o coletivo que levava até o Beira-Rio, para então aproveitar o deslocamento que o clube disponibiliza até Alvorada, onde está centralizada a base.
Quando sobrou uma grana, o zagueiro matriculou-se na autoescola e iniciou o processo para tirar a carteira de motorista. No dia 28 de agosto, enfim, fez a última prova prática que o habilitaria a dirigir. Aprovado, decidiu que era a hora de ter o seu primeiro carro. Contou inicialmente com a ajuda de um dos seus empresários para comprar o i30, da Hyundai. Mas pelo perfil independente que tem desde a infância, procurou o banco e fez um empréstimo de 42 vezes para pagar o veículo.
— Fiz mesmo, mas vou terminar de pagar antes. Estou antecipando parcelas, pago mais de uma por vez — conta, mantendo sua discrição, sem abrir valores.
O endereço também não é mais o mesmo. Saiu do Bairro Santana, onde residia com o colega de base Romarinho, para morar no Cristal. Não divide mais o espaço com nenhum companheiro da base. Sozinho, agora a arrumação do apartamento no nono andar é toda com ele. Eriks prefere não ter alguém ajudando na limpeza.
— Eu mesmo faço. Cozinho, arrumo. E o bom de morar sozinho é que eu saio e, quando eu volto, está tudo como eu deixei — pondera o jogador.
Após os 45 minutos como titular no jogo contra o Aimoré, em fevereiro, Arthur não teve mais chances no time principal. A rotina de treinos entre os profissionais se manteve até que uma dor persistente no joelho direito começou a atrapalhar. Na primeira semana, a fisioterapia resolvia. Só que depois o desconforto se transformou em dor insuportável. A lesão no menisco, a segunda ocorrência desde os tempos de base, só seria resolvida com uma intervenção cirúrgica. No dia 8 de maio, a operação foi realizada no Hospital Mãe de Deus.
Por um mês, Arthur passou a conviver com Ramiro e o zagueiro Gabriel na academia e na sala de fisioterapia do CT Hélio Dourado. Enquanto se recuperava da cirurgia, o volante passou todos os dias acordando às 7h, indo ao CT para café da manhã e para uma sessão de fisioterapia. Depois, almoço e mais algumas horas dedicadas ao trabalho de recuperação.
Com a saída de Felipão e a chegada de Roger, Arthur tentou ter mais oportunidades. Uma conversa ao com o novo técnico o encheu de esperanças. Ouviu elogios ao seu passe qualificado, mas que também precisaria melhorar a marcação para ser aproveitado.
Descrito pelo colega Giuliano como um jogador ao estilo Iniesta, Arthur foi buscar no Barcelona um outro exemplo. Os vídeos de Mascherano viraram programa obrigatório. O gremista passou a estudar clipes com o posicionamento e a forma de atacar a bola do argentino para se aprimorar.
Nos jogos contra Cruzeiro, Santos, Chapecoense e Vasco pelo Brasileirão, o volante ficou como opção no banco de reservas, mas não entrou.
Para resolver o problema dos meninos que subiram ao profissional e não tinham tempo de jogo, a direção criou o grupo de transição sob o comando do técnico Bugre. A ideia era utilizar a gurizada nas copinhas da Federação Gaúcha e manter todos em boas condições físicas quando fossem requisitados por Roger.
Depois de lidar com a frustração, a oportunidade de voltar a jogar regularmente animou Arthur. Era a chance que faltava para recuperar o ritmo:
— Eu fiquei animado por que iria voltar a jogar. E sabia que dependeria de mim, tentei não olhar pelo lado ruim — lembra.
O ano em que Eriks teve a primeira experiência com os profissionais também foi a temporada em que o zagueiro viu-se na reserva pela primeira vez. O time que estava próximo a entrar em campo pela Copa do Brasil Sub-20, no dia 23 de setembro, contra a Chapecoense, tinha uma peculiaridade: havia jogado junto em uma competição na Alemanha. Por uma decisão do clube e por estarem disputando o Brasileirão da categoria, Eriks e Ferrareis ficaram em Porto Alegre.
— Desde quando cheguei no Inter, nunca fui reserva. Este ano, tive a experiência de sentir o que é. Me perguntei em determinada hora: será que eu parei? Desaprendi a jogar? O que aconteceu? Mês passado eu estava no profissional. Será que foi o dinheiro que eu ganhei? Deixei o carro subir para a cabeça? _ lembra Eriks, em uma autoavaliação de um dos “períodos mais difíceis” do ano. — A cabeça do jogador precisa ser boa, estar no lugar. Tem de saber conversar com alguém que te dê outros ares, e não ficar com o pensamento de que “eu tenho que ser titular”. Sabia que aquele ali seria o time que jogaria a Copa do Brasil e foi. Sem mim — desabafa o jogador, que teve a mesma experiência na Copa Valmir Louruz, em que os titulares foram Moledo e Eduardo.
Entender e compreender decisões dos treinadores talvez sejam as missões mais complicadas que os jogadores da base se deparam. Isso porque dois meses antes de Eriks se ver no banco, o zagueiro esteve na campanha da conquista do Campeonato Gaúcho Sub-20.
— Ter cabeça em uma hora dessas é difícil. Quem tem, chega ao sucesso — sentencia.
E como vida de jogador da base não para, Eriks embarcou no dia 23 para o Rio, onde passou o Natal com a família. Voltará a Porto Alegre antes do Ano-Novo, já que o primeiro dia útil para o grupo será 1º de janeiro, dia da reapresentação para a Copa São Paulo, quando o 2016 definitivamente começa.
Depois de um ano entre o sub-20, profissionais e grupo de transição, Arthur sonha com voos mais altos em 2016. Com Felipão, veio a chance de fazer sua estreia com a camisa do clube. De Roger, recebeu a orientação do que precisará melhorar para voltar a ter chances em 2016.
Da titularidade no Gauchão, passando pela mesa de cirurgia e pelo retorno aos jogos de base, o volante gremista começou e terminou o ano com eliminações doloridas no time sub-20 (Copa São Paulo e Copa Ipiranga), mas o otimismo segue inalterado para o futuro.
— Às vezes, aprendemos mais na derrota do que na vitória. Acontece, tenho que tirar proveito disso.
A reapresentação para o próximo ano está marcada para o dia 6 de janeiro, com o grupo profissional. Será o primeiro dos últimos 12 meses do seu contrato, uma temporada que pode encaminhar seu futuro.
— Eu costumo dar um passo de cada vez, não gosto de fazer planos. Gosto de dar o máximo a cada dia. Sei de meu potencial, por isso deixo nas mãos de Deus. O que tiver que ser, será.
De 2015, Eriks leva a surpresa de estar no Inter B e as experiências que o ano trouxe. No balanço das metas, tudo como planejado ainda em janeiro: treinos no CT Parque Gigante com o grupo principal e fazer ao menos um jogo com eles.
— Tracei algumas coisas que queria para este ano. Entre elas, estar em uma partida do profissional no segundo semestre. A oportunidade veio antes, bem mais rápido do que eu imaginava — comemora o garoto.
Os 30 dias treinando no CT Parque Gigante ainda na primeira metade do ano também são reconhecidos como troféu para o zagueiro, que tem contrato com o Inter até julho de 2017. Eriks valoriza a sequência com um mesmo treinador e um grupo específico, situação que, durante o ano, varia. O jogador é um dos comandados por Ricardo Colbachini, no Inter B. E desce para jogar com a categoria sub-20 toda vez que Carlos Leiria o convoca.
Foi o que aconteceu na Copa Ipiranga Sub-20, a última competição de 2015. Ao lado de Eduardo, Eriks fez sua estreia contra o Vasco. Os 4 a 0 davam ideia de que o ano terminaria com mais um título, além do Gauchão. Diante do Avaí, dores na coxa direita acabaram o tirando de parte do segundo tempo e das derrotas para o Atlético-MG e Palmeiras, esse último causando a eliminação da competição.
— Sou chato com eles (os companheiros de equipe), mostro o que poderia ser feito de diferente. No primeiro jogo contra o Vasco, amassamos, com toque de bola. No segundo e terceiro, estávamos cansados, e no quarto, jogamos na superação — admite Eriks, que emenda:
— Eu falo para os moleques para se cuidar fisicamente porque a Copa São Paulo é muito difícil. Sei disso, é a minha terceira — alertou.
Eriks também segue o seu próprio conselho à risca. Sabe que seu futuro depende do desempenho nesta competição, que inicia já em janeiro. A ideia para 2016 é mostrar mais do que se viu do zagueiro nesta temporada e ficar de forma definitiva no grupo principal _ tarefa um tanto difícil, já que Argel tem outros sete zagueiros _ ou buscar experiência com um possível empréstimo para outro clube:
— Me sinto preparado para engrenar aqui (no Inter). Ou pode ser a hora de buscar experiência em outro clube, por empréstimo — finaliza.
Eriks termina o ano integrado ao Inter B, antigo sub-23, mesmo com idade de sub-20. Ele comemora a oportunidade. Diz que o clube poderia ter buscado outro zagueiro para o lugar e optou por ele. O medo do novo não o assusta, muito menos o sobe e desce por conta das competições de sua faixa etária, que seguirão acontecendo em 2016. A meta é adaptar-se e dar o combate. E sem se importar com o que vem pela frente, se um centroavante habilidoso ou um outro clube.